De forma geral, podemos distinguir dois tipos principais de respostas funcionais de qualquer organismo vivo para ativar os mecanismos de sobrevivência: PROTEÇÃO E DESENVOLVIMENTO. E há a particularidade de que estas duas respostas não podem ocorrer simultaneamente, porque uma representa o fechamento do sistema e a outra a abertura.
A Walter B. Cannon nós devemos o conceito de Homeostasis. Baseou-se na idéia anterior de C. Bernard sobre o Ambiente Interno, que o próprio Cannon desenvolveu em seu livro “A Sabedoria do Corpo”. É o processo de auto-regulação pelo qual uma estabilidade orgânica é mantida enquanto é afetada por uma mudança nas condições externas.
HOMEOSTASE é o mais importante processo auto-regulador de sobrevivência de nosso organismo e representa a principal resposta de PROTEÇÃO. É um estado de equilíbrio estável em um ambiente em mudança que depende de informações sensoriais internas e externas para permitir que o organismo desenvolva vida. Este equilíbrio, situado em uma variação extremamente pequena, não é alcançado por uma situação estática, mas por uma reação constante a qualquer estímulo, interno ou externo, que a afete. A evolução priorizou esta resposta da função de proteção que garante a sobrevivência.
Mas a homeostase não é uma garantia suficiente de sobrevivência porque seria muito arriscado estar sempre tentando corrigir um desequilíbrio uma vez que ele já tenha ocorrido, especialmente em um organismo que está interagindo com um ambiente instável. A evolução tem assegurado que, uma vez que as respostas tenham assegurado a proteção e a sobrevivência do organismo, outras respostas são postas em prática para permitir que os organismos antecipem os desequilíbrios e explorem possíveis soluções. ALOSTASE é o processo fisiológico de recuperação de um organismo submetido a um estado de estresse. Ela representa a resposta principal de DESENVOLVIMENTO,
elevando o nível de adaptação que precisa de uma livre troca de informações entre o organismo e o meio ambiente. Este aumento é condicionado pelo conceito de Hormesis, que requer a dose certa de estímulos, nem mais nem menos, para produzir o máximo de adaptações. Esta variação do equilíbrio, levando em conta os fatores que produziram o desequilíbrio, é conhecida como Homeorresis, um fenômeno homeostático variável.
Apenas os genes que se revelam úteis para a preservação da vida em um determinado ambiente se integram como um bioalgoritmo e são mais propensos a serem transmitidos às gerações futuras. Mas um organismo que depende exclusivamente de informação genética, que não é muito flexível, teria muita dificuldade em reagir a mudanças súbitas no ambiente. Como um complemento perfeito desta “rigidez” genética, temos um sistema nervoso altamente desenvolvido e flexível que fornece ao cérebro todas as informações sobre o que está acontecendo diante de qualquer variação no ambiente. Ele o analisa e o relaciona com o que já tem na memória para poder elaborar estratégias de ação que coloquem o organismo dentro desse equilíbrio homeostático.
IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE
Nós fazemos parte do ambiente que, por sua vez, estimula e modela o comportamento adaptativo. A importância do ambiente é que todas as funções do organismo são influenciadas por ele. O sistema genético e o sistema nervoso são desenvolvidos para nos adaptar o melhor possível ao ambiente em que vivemos.
O ambiente estimula e modela o comportamento adaptativo. Podemos dizer que o ambiente é parte de nosso sistema cognitivo porque um não pode acontecer sem o outro. O fluxo de informações é tão grande e contínuo que a própria mente não pode ser considerada como a única unidade de análise significativa. A cognição ocorre para a ação. A atividade cerebral envolve percepção e ação. A manutenção desse equilíbrio requer uma excelente gestão interna e um bom relacionamento externo, pois a atividade se desenvolve em um contexto real.
Uma parte importante da cognição ocorre inconscientemente e se baseia no corpo, porque é o corpo que interage com o meio ambiente através de mecanismos de percepção sensorial e controle motor. O órgão é o centro regulador de informações sensoriais relacionadas à necessidade de preservar a vida. Nesse sentido, o movimento corporal constitui uma forma fundamental de relação entre nosso organismo com seus diferentes sistemas e o ambiente no qual nossa vida se desenvolve. E ela estabelece uma relação bidirecional, pois não é apenas responsável pela coleta de informações a partir dos estímulos que ocorrem ao nosso redor, é também responsável por expressar tudo o que ocorre dentro de nós para o ambiente que nos cerca. É de suma importância compreender essa bilateralidade porque quando desenvolvemos o movimento do corpo em um meio, tratamos esta relação como uma , unica unidade cognitiva que se inter-relaciona, interage e influencia mutuamente.
Ao considerar o organismo e o ambiente como um único sistema, surge a oportunidade de alterar todo o sistema, agindo sobre um deles. Modificando o ambiente e a experiência vivida através de exercício ou movimento, são obtidas adaptações orgânicas específicas. Este é o princípio fundamental do treinamento fisico e ocorre com qualquer órgão, mas de forma única com o cérebro. Devido a sua plasticidade, o cérebro é particularmente sensível aos estímulos ambientais. Modulando as condições ambientais, são fornecidos estímulos que modificam a estrutura e alteram o funcionamento do cérebro.
CONCLUSÃO
O ambiente estimula e molda nossos comportamentos adaptativos que inicialmente procuram manter o nível homeostático. Uma vez consolidado este nível de proteção, busca-se o desenvolvimento. Reagir a um estímulo não é a coisa mais segura a fazer, a alostase torna possível antecipar e elevar o nível de adaptação.
A importância do meio ambiente é que ele tem uma influência determinante em todas as funções orgânicas. Ao alterar o ambiente, estamos também alterando os comportamentos adaptativos. Movimento e exercício são formas de se relacionar e alterar o ambiente em busca das adaptações orgânicas desejadas. E o cérebro é particularmente sensível a estas alterações.